quarta-feira, 12 de agosto de 2020

2º Ano - PET 3 - 3ª Semana - (12ª Semana) - O comércio brasileiro e a consolidação de novos parceiros no comércio exterior

 
 
 
A balança comercial baseada na agroexportação  

A economia brasileira no século XIX foi marcada pelo fato de o país ser um centro periférico agroexportador, porém essa economia voltada para o mercado externo permitiu que fossem estabelecidas no Brasil condições para que se fortalecesse o seu mercado interno. Um exemplo disso foi o Estado de Minas Gerais, que diversificou sua produção voltada para a agroexportação, como o caso do café no século XIX, sendo que, ao mesmo tempo, foram oferecidas condições para que atividades como as agropastoris, mineratórias, têxteis, entre outras, exercessem um papel fundamental na sua economia, atendendo ao seu mercado interno e abastecendo as unidades vizinhas.

O Brasil, a partir do século XIX, chegou a ser responsável por 80% da produção cafeeira mundial e mais de 50% da borracha. Além disso, o país chegou a ser o maior produtor de mate do mundo e o segundo maior exportador de cacau, sendo que, entre 1889 a 1930, somente a Argentina exportava mais que o Brasil em toda a América Latina (TOPIK, 1987 p. 16). 

Ainda de acordo com esse autor, a economia exportadora brasileira, no decorrer do século XIX, gerou condições para um desenvolvimento socioeconômico regional diversificado, chegando ao ponto de uma camada de produtos exportáveis, como o algodão e o açúcar, a partir de 1889, tivessem mais de 2/3 de sua produção vendida no mercado interno (TOPIK, 1987, pp. 16-17).

 

A produção cafeeira 

O café foi o principal produto de exportação da economia brasileira durante o século XIX e o início do século XX, garantindo as divisas necessárias à sustentação do Império do Brasil e também da República Velha.

As raízes do café no Brasil foram plantadas no século XVIII, quando as mudas da planta foram cultivadas pela primeira vez, que se tem notícia, por Francisco de Melo Palheta, em 1727, no Pará. A partir daí, o café foi difundido timidamente no litoral brasileiro, rumo ao sul, até chegar à região do Rio de Janeiro, por volta de 1780, o café começou a ser produzido em larga escala comercial no Brasil. Isso aconteceu em razão do aumento da demanda pelo café na Europa e nos Estados Unidos e do aumento dos preços do café no mercado internacional. Tal dimensão de produção cafeeira só foi possível com o aumento da procura do produto pelos mercados consumidores da Europa e dos EUA.

Entretanto, sua produção em escala comercial para exportação ganhou força apenas no início do século XIX. 

A produção do café no Brasil expandiu-se a partir da Baixada Fluminense e do vale do rio Paraíba, que atravessava as províncias do Rio de Janeiro e de São Paulo. A cafeicultura no Brasil beneficiou-se da estrutura escravista do país, sendo incorporada ao sistema plantation, caracterizado basicamente pela monocultura voltada para a exportação, a mão de obra escrava e o cultivo em grandes latifúndios.

Nessa região do Brasil, a produção cafeeira beneficiou-se do clima e do solo propícios ao seu desenvolvimento. O fato de ser rota de transporte de mercadorias entre o Rio de Janeiro e as zonas de mineração contribuiu também para a adoção da lavoura cafeeira, já que parte das terras estava desmatada, facilitando inicialmente a introdução das roças de café e beneficiando o escoamento da produção através das estradas existentes.

Os capitais iniciais para a produção do café vieram dos próprios fazendeiros e comerciantes, principalmente os que conseguiram acumular capital com o impulso econômico verificado após a vinda da Família Real ao Brasil, a partir de 1808.

As técnicas de produção de café eram simples. Inicialmente se desmatavam terras onde era necessário expandir as áreas agricultáveis para a colocação das mudas da planta. Estas demoravam cerca de cinco anos para começar a produzir. Nesse tempo, outras culturas eram plantadas em torno dos cafezais, principalmente gêneros alimentícios. Para a conservação das plantas, eram necessárias apenas enxadas e foices. A colheita era feita manualmente pelos escravos, que, após essa tarefa, colocavam os grãos do café para secar em terreiros. Uma vez seco, o café era beneficiado, retirando-se os materiais que revestiam o grão através de monjolos, máquinas primitivas de madeira formadas por pilões socadores movidos a força d’água.

 

Após esse processo, o café era transportado nos lombos das mulas para o porto do Rio de Janeiro, de onde era exportado. Mas o aumento da produção cafeeira e os lucros decorrentes dela levaram ao início do processo de modernização da economia e da sociedade brasileira.

Um dos exemplos mais marcantes dessa modernização esteve na construção de ferrovias para o transporte do café, o que aumentou a velocidade do transporte e interligou algumas regiões do Império, principalmente após a expansão das lavouras para as terras roxas localizadas no chamado Oeste paulista, intensificada após a década de 1860. Tal situação levou ainda ao fortalecimento do Porto de Santos como principal local de escoamento da produção. 

 

Em 1836 e 1837, a produção cafeeira superou a produção açucareira, tornando o café o principal produto de exportação do Império. Os grandes latifundiários produtores de café, os chamados “Barões do café”, enriqueceram-se e garantiram o aumento da arrecadação por parte do Estado imperial.

Surgiram ainda os chamados comissários do café, homens que exerciam a função de intermediários entre os latifundiários e os exportadores. Além de controlarem a venda do produto, garantiam aos latifundiários acesso a créditos para a expansão da produção e também viabilizavam a compra de produtos importados.

O café foi, dessa forma, um dos principais esteios da sociedade brasileira do século XIX e início do XX. Garantiu o acúmulo de capitais para a urbanização de algumas localidades do Brasil, como Rio de Janeiro, São Paulo e cidades do interior paulista, além de prover inicialmente os capitais necessários ao processo de industrialização do país e criar as condições para o desenvolvimento do sistema bancário.

 

Com o aumento da demanda do mercado internacional, os cafeeiros foram expandindo-se para o Vale do Paraíba, que dominou a economia cafeeira até os anos 1850, responsável por 78,41% do café exportado

Foi ao longo do Vale do Paraíba, região que abrange terras do Rio de Janeiro e de São Paulo, que o café, considerado um artigo de sobremesa, se tornou o principal na pauta de exportação brasileira. Desde o período regencial, o café já propiciava grandes lucros para o país, mas foi no Segundo Império que a produção atingiu seu apogeu.

A região do Vale do Paraíba era bastante apropriada para a cafeicultura, pois era abundante em terras virgens e tinha um clima favorável. A implantação das fazendas se deu pela tradicional forma de plantation, ou seja, grandes propriedades, cultivo para exportação e uso de mão-de-obra escrava.

Aos poucos, a riqueza vinda do café foi realizando uma grande transformação na estrutura da região Centro-Sul. Foram criados empregos, melhorou-se a condição dos portos e instalaram-se novas formas de transporte. Os grandes fazendeiros do Vale receberam títulos de nobreza, e passaram a ser a principal base de apoio para o Imperador. Eram os "Barões do Café".

Por volta de 1850, a cafeicultura no Vale atingiu seu auge. Vassouras foi considerada a "capital do café". Solucionou-se os problemas de transporte com a construção da ferrovia Dom Pedro II, tempos depois chamada de Central do Brasil. 

 

O Oeste Paulista

Inúmeros fatores proporcionaram o crescimento acentuado do setor cafeeiro no Oeste Paulista. Existia grande disponibilidade de terras pouco exploradas, especialmente na região do Rio Paraná, na divisa com Mato Grosso. Esta região de planalto possuía um terreno com inclinações suaves, adequado à prática agrícola. Além do clima temperado favorável, ali se encontrava a terra roxa, de alta produtividade. Isso atraiu o desenvolvimento da atividade nessa região, os fazendeiros passaram a investir o capital excedente na produção cafeeira no Oeste Paulista.

O nome da terra foi dado pelos imigrantes italianos, que chamavam de "rossa" (vermelha), em sua língua natal, daí roxa. A existência de excedente de capital, oriundo dos negócios da exportação do açúcar e do algodão, também contribuiu muito para o crescimento do Novo Oeste, já que o investimento cafeeiro inicial foi realizado, em grande parte, sem empréstimos. Deste capital também vieram as máquinas de beneficiamento.

 

As fazendas paulistas, ao contrário das do Vale do Paraíba, eminentemente escravistas eram verdadeiras empresas que utilizavam máquinas agrícolas (arados, ventiladores, despolpadores e separadores de grãos) que promoveu uma verdadeira revolução na técnica de descascamento dos grãos e estabeleciam uma divisão mais racional do trabalho, com tarefas especializadas. Isso aumentava a produtividade e a qualidade do produto.

Em 1868 surgiria a Companhia de Estradas de Ferro, empresa financiada com capitais dos fazendeiros do Novo Oeste. A contrução das lingas férreas vinculava-se ao êxito da empresa cafeeira, já que o porto do Rio de Janeiro, que escoava a produção, era distante. Assim, surgiram várias estradas de ferro, como a que ligava Campinas a Jundiaí, obra da Companhia Paulista de Estradas de Ferro (a “Paulista”), sem qualquer financiamento do Estado Imperial ou de empresas estrangeiras. Sertão adentro, acompanhando o café, iam sendo criadas cada vez mais ferrovias como Sorocabana (1871), a Mogiana e a Itauna (1872).

 

Outras condições externas vieram facilitar o crescimento da região do Novo Oeste Paulista. Uma praga destruiu os extensos cafezais do Ceilão, então possessão inglesa. Os Estados Unidos da América, por sua vez, suprimiram as taxas de importação do café. Isto ocorrera porque, após a Independência (1776), os americanos substituíram o chá, importado da Inglaterra, pelo café. Como Cuba, principal fornecedor, estava em guerra para libertar-se do domínio espanhol, os americanos passaram a comprar café do Brasil.

As transformações nessa região paulista aconteceram, aos poucos, nas ultimas décadas do século XIX. A acumulação de excedentes, oriundas da produção cafeeira, com o tempo entrelaçara-se a outras atividades, como, por exemplo, comércio, bancos e ferrovias. Esta diversificação da economia acarretou a formação de núcleos urbanos no interior, entre os quais: Jaú (1858), Ribeirão Preto (1870), Barretos (1874), São José do Rio Preto (1879) e Bauru (1880). Estas cidades tornaram-se centros de produção industrial e de consumo consolidados a partir de 1880, ano que marca o início da “grande imigração”.

Os produtores do grão reuniam grande quantidade de capital e investiam na própria produção cafeeira, na vinda de espetáculos para o Brasil e na construção de majestosas casas. Os barões do café, como eram chamados, passaram a construir suas casas na cidade, entre a propriedade rural e o porto de Santos, destacando-se as localizadas na Avenida Paulista. A arquitetura se inspirava principalmente na França, e também em outros países europeus. Aos poucos, obras como a do Viaduto do Chá, em 1892, e da Estação da Luz, em 1902, interligavam os pontos da capital.
 
 
Tamanho foi o enriquecimento dos cafeicultores paulistas que eles chegaram ao poder na república oligárquica, conhecida como a República do Café com Leite, em que São Paulo alternava o posto com Minas Gerais.

A crise na produção veio em 1929, com a queda da Bolsa de Nova Iorque, mas o Brasil se recuperou e até hoje é considerado o maior produtor mundial.

 
 
 

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