COLONIZAÇÃO PORTUGUESA; ECONOMIA AÇUCAREIRA
A MONTAGEM DA ÁREA DE PRODUÇÃO AÇUCAREIRA
O açúcar foi o produto escolhido para iniciar, em 1534, a colonização sistemática do Brasil, uma
vez que tinha mercado garantido na Europa e possibilidade de gerar altos lucros para a metrópole
portuguesa. Além disso, havia o especial interesse de os flamengos investirem na nova área de
produção, um tipo de solo altamente favorável à cultura canavieira em Pernambuco, e o recurso
possível ao trabalho compulsório, inicialmente os indígenas e, posteriormente, os africanos. E,
principalmente,os portugueses já tinham experiência com o produto,uma vez que o cultivavam nas
ilhas africanas das costas do Atlântico.Em1498, comerciantes genoveses e portugueses vendiam
açúcar da Ilha da Madeira até Constantinopla e,nos séculos XV e XVI, quase todas as Ilhas africanas
do Atlântico exportavam açúcar para o mercado europeu. Sendo assim, a extensão do cultivo do
açúcar para o Brasil era mais do que natural.
A grande propriedade de produção açucareira acabou assimilando a denominação de engenho,
que era apenas um dos seus elementos. A propriedade englobava as terras de plantação de
cana-de-açúcar, o setor agrícola da plantation, e o engenho propriamente dito, o setor fabril
da plantation, responsável pela transformação da cana em açúcar. O termo plantation substitui
a tradicional denominação do tripé da agricultura de exportação: latifúndio, monocultura e
escravidão. O que diferencia a plantation de outras culturas agrícolas é a existência, nela, de
um setor fabril para o beneficiamento do produto agrícola cultivado.
O engenho, a grande propriedade produtora de açúcar,
era constituído, basicamente, por dois grandes setores: o agrícola -
formado pelos canaviais -, e o de beneficiamento - a casa-do-engenho,
onde a cana-de-açúcar era transformada em açúcar e aguardente.
- Alçaprensa ou alçaprema: engenho movido a força humana. Geralmente usado nas chamadas engenhocas (pequenos engenhos), os quais fabricavam rapadura ou aguardente para consumo interno. Poderiam também fabricar pequenas quantidade de açúcar para uso caseiro.
- Almanjarra, trapiche, molinote, atafona ou de bois: engenho movido pela força de animais, geralmente bois, mas havia casos que se usava cavalos.
- Água ou real: engenho movido pela força da água, usando-se uma roda d'água. Foram considerados os mais eficientes, por longos séculos.
A partir do século XIX, na época do Império, surgiram outros tipos:
- Banguê: engenho movido a vapor. O termo também foi usado anteriormente para se referir a engenhos que produziam garapa.
- Entrosa: pequeno engenho movido paus. Usava-se também a força humana.
- Gangorra: pequeno engenho de madeira manual com dois cilindros. Usava-se também a força humana.
- Fogo-morto: Usado para se referir a um engenho inoperante.
Dos engenhos uns se
chamam reais, outros inferiores vulgarmente engenhocas. Os reais ganharam este
apelido, por terem todas as partes, de que se compõem, e todas as oficinas
perfeitas, cheias de grande número de escravos, com muitos canaviais próprios,
e outros obrigados à moenda; e principalmente por terem a realeza de moerem com
água, à diferença, de outros, que moem com cavalos e bois, e são menos providos
e aparelhados; ou pelo menos com menor perfeição,
e largueza, das oficinas necessárias, e com pouco número de escravos, para
fazerem como dizem, o engenho moente e corrente”.
Nem todos os proprietários de engenho, principalmente os donos de engenhos reais, movidos
a água, plantavam cana-de-açúcar, poderiam ceder parte de suas terras para
arrendatários, como também recebiam a produção de lavradores menores,
para ser moída em seu engenho.
"Embora o proprietário explore, em
regra, diretamente suas terras (como ficou entendido acima), há casos freqüentes
em que cede partes delas a lavradores que se ocupam com a cultura e produzem a
cana por conta própria, obrigando-se contudo a moerem sua produção no engenho
do proprietário".
Os senhores de engenho preferiam beneficiar a cana de arrendatários e lavradores
livres, lucrando no beneficiamento, ou seja, com a renda industrial, em geral metade do açúcar
levado para ser beneficiado em seu engenho. Já os lavradores e arrendatários lucravam muito
menos do que o senhor de engenho com a renda da terra, ou seja, a quantidade de cana
produzida.
Os donos das pequenas terras também podiam plantar cana e vender para os
grandes proprietários de engenho. Acabavam sempre ficando dependentes
de quem possuía grandes posses uma vez que não tinham o mecanismo para
produzir o açúcar em si, nem a mão de obra.
São as chamadas fazendas obrigadas; o lavrador recebe metade
do açúcar extraído da sua cana, e ainda paga pelo aluguel das terras que
utiliza uma certa porcentagem, variável segundo o tempo e os lugares, e que
vai de 5 a 20%. Há também os lavradores livres, proprietários das terras que
ocupam, e que fazem moer a sua cana no engenho que entendem; recebem então a
meação integral. Os lavradores, embora estejam socialmente abaixo dos senhores
de engenho, não são pequenos produtores, da categoria de camponeses. Trata-se
de senhores de escravos, e suas lavouras, sejam em terras próprias ou
arrendadas, formam como os engenhos grandes unidades".
Além dos engenhos reais, havia também os trapiches, engenhos menores movidos
a força animal; e as engenhocas, essas últimas geralmente dedicadas à produção de rapadura
e aguardente.
A configuração espacial do engenho estava ligada ao processo de fabricação do açúcar, que consistia basicamente em três etapas principais: moagem da cana, cozimento do caldo e purga.
No engenho havia várias construções: a casa-grande,
moradia do senhor e de sua família; a senzala, habitação dos escravos; a
capela; e a casa do engenho. Esta abrigava todas as instalações
destinadas ao preparo do açúcar: a moenda - onde se moía a cana para a
extração do caldo (a garapa); as fornalhas - onde o caldo de cana era
fervido e purificado em tachos de cobre; a casa de purgar - onde o
açúcar era branqueado, separando-se o açúcar mascavo (escuro) do açúcar
de melhor qualidade e depois posto para secar. Quando toda essa operação
terminava, o produto era pesado e separado conforme a qualidade, e
colocado em caixas de até 50 arrobas. Só então era exportado para a
Europa.
O engenho colonial era um grande complexo que apresentava uma estrutura básica, o qual era dividido em diversas partes, a saber:
- Canavial: onde o açúcar era cultivado nas grandes extensões de terra denominadas de latifúndios. Ali começava o processo, ou seja, o plantio e a colheita do produto.
- Moenda: local para moer ou esmagar o produto utilizado principalmente, pela tração animal, onde era esmagado o caule e extraído o caldo da cana. Podiam também ter moendas que utilizavam a energia proveniente da água (moinho) ou ainda ela força humana: dos próprios escravos.
- Casa das Caldeiras: aquecimento do produto em tachos de cobre.
- Casa das Fornalhas: uma espécie de cozinha que abrigava grandes fornos que aqueciam o produto e o transformavam em melaço de cana.
- Casa de Purgar: local onde era refinado o açúcar e finalizado o processo.
Muitos engenhos possuíam também destilarias para produzir a
aguardente (cachaça), utilizada como escambo no tráfico de negros da África.
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