quinta-feira, 24 de setembro de 2020

7º ANO - PET 4 - 4ª Semana - A Sociedade Açucareira no Brasil Colônia.


 

A SOCIEDADE AÇUCAREIRA NO BRASIL COLÔNIA.

O Ciclo do Açúcar foi uma das principais bases econômicas, sociais e culturais no Brasil Colonial, entre meados dos séculos XVI e XVIII. Sua implementação ocorreu por meio da importação pelos portugueses do sistema de sesmarias, responsável pela distribuição de terras para produção agrícola na, então, colônia portuguesa. Esse processo foi fundamental para a ocupação territorial, que, aos poucos, formou boa parte do que hoje representa a geografia atual do Brasil.

Foi somente a partir da expedição colonizadora designada pelo Império Português a Martim Afonso de Sousa, entre 1530 e 1532, que a produção do açúcar passou a se desenvolver no Brasil, tornando-se, depois, a base da economia colonial até o século XVIII e caracterizando o que ficou conhecido como Ciclo do Açúcar.

A partir de então, a produção de açúcar passou a desempenhar um papel fundamental sob diversos aspectos de todo o sistema colonial português. Além do seu impacto na alimentação, na colônia e também no mundo, sua produção em grande escala permitiu maiores acessos ao produto. Todo o seu sistema de produção acabou formando também as bases sociais de todo o período e possui heranças até os dias de hoje. Os engenhos foram, portanto, o principal modelo de unidade produtiva de uma das bases econômicas do Brasil Colonial.

Nesse período, formaram-se os engenhos, que eram as unidades produtivas responsáveis pela moenda da cana-de-açúcar, além de concentrar o exercício de outras atividades importantes para o período, como a produção da cachaça brasileira, por intermédio dos alambiques, entre outras coisas.

NORDESTE BRASILEIRO BERÇO COLONIAL

A região Nordeste foi o berço da colonização europeia no país, uma vez que nela ocorreu a descoberta do Brasil e se consolidou a colonização exploratória.

O Nordeste brasileiro representa a primeira zona de povoamento criada pelos conquistadores portugueses, que iniciaram a colonização a partir do litoral nordestino, que favorecia a ocupação em razão da presença de melhores condições naturais, como uma porção litorânea vastamente recortada, ideal para a navegação de cabotagem, e o relevo plano próximo ao mar.

A região, logo de início, serviu de porto para a retirada de recursos naturais, como o pau-brasil, além de também servir para o cultivo da cana-de-açúcar, que viria a ser o produto mais importante do nordeste brasileiro por muito tempo. O Nordeste foi a região mais rica do país até a metade do século XVIII.

O cultivo da cana-de-açúcar, (que obteve seu auge entre o final do século XVI e meados do século XVII), baseado no sistema Colônia-Metrópole, estruturou o comércio e o desenvolvimento das cidades nordestinas, principalmente na faixa litorânea, atualmente conhecida como Zona da Mata. Portugal ampliou seu comércio açucareiro com os recursos investidos principalmente em Pernambuco, com base no trabalho indígena e capital estrangeiro (holandês). Para produzir de acordo com as necessidades da colônia, foram trazidos os negros africanos. Esse sistema consolidou a estrutura fundiária que ainda prevalece no Nordeste, marcada por forte concentração de terras e influência de oligarquias e famílias tradicionais nas decisões políticas e econômicas.

A economia açucareira norteou outras atividades, como a criação de gado (carne, transporte, energia para os engenhos, sebo, lenha para as caldeiras), sendo que esta atividade acabou por se expandir para áreas do sertão, constituindo a base de sua economia. Ao final do século XVII, a produção de açúcar nas Antilhas aumentou a oferta do produto no mercado internacional, abaixando vertiginosamente seu preço. Com o declínio da produção açucareira, a pecuária absorveu grande parte da população.

Durante quase três séculos (XVI até o XVIII) a região Nordeste concentrou a maior parte da população e grande parte das riquezas do Brasil. O sistema de acumulação baseado na cana-de-açúcar, ao contrário do café no Sudeste, ocorreu num momento em que a ocupação brasileira representava o enriquecimento da metrópole através da exploração da colônia. Ainda que se discuta que no estado de São Paulo as riquezas se concentraram com os Barões do Café e não proporcionaram um equilíbrio na distribuição de renda, tal acumulação ocorreu num outro contexto histórico, pós-Revolução Industrial, sendo utilizada na modernização da infraestrutura e induzindo a formação de uma classe social capaz de investir em empreendimentos que se instalaram efetivamente no território brasileiro.

Por outro lado, a pecuária extensiva foi responsável, ainda durante o século XVII, pelo início da interiorização da ocupação no Nordeste. Afastado da Zona da Mata para não comprometer a lavoura de cana, o rebanho bovino seguiu pelo Agreste – faixa transitória entre as áreas úmidas e as porções de clima seco ­– até alcançar o Sertão. A pecuária extensiva nordestina realizada no Agreste e no Sertão chegou a atrair até mesmo imigrantes paulistas para a região Nordeste. A figura do sertanejo, vaqueiro acostumado às condições extremas impostas pela seca existe até os dias atuais em diversas cidades nordestinas.

A partir do século XIX, o Nordeste passou a assumir um papel de dispersor de população. Historicamente, a região possui alto índice de emigrações, em função da carência de infraestrutura e de projetos de desenvolvimento que incluam as camadas mais populares, situação agravada pelas secas sazonais e a grande concentração fundiária.


A PRODUÇÃO AÇUCAREIRA

Etapas da produção de açúcar:  

1º - A cana-de-açúcar era plantada, pelos escravos, em extensos canaviais. 

2º - Os escravos cortavam a cana-de-açúcar e carregavam em carros de bois até a moenda, que ficava na parte interior do engenho. 

3º - Nas moendas (grandes máquinas movidas por moinho d’água, força humana ou por bois), a cana-de-açúcar era esmagada. O caldo de cana era obtido nessa etapa. 

4º - O caldo de cana era colocado em grandes caldeiras para passar por um processo de fervura. O resultado, depois de horas, era um caldo bem grosso (pastoso). 

5º - O caldo grosso era levado até a casa de purgar, onde era colocado em recipientes de barro, em formato de cone, com um furo na parte inferior. Esse furo possibilitava o escorrimento do restante da água. O caldo ficava nesse local de 3 a 5 dias, até que toda água escorresse. 

6º - No final da etapa anterior, o resultado era uma espécie de bloco de açúcar, em formato de cone e de cor amarelada. Esses “pães de açúcar”, como eram chamados, eram transportados para a Europa, local em que seriam clareados (refinados) e vendidos aos comerciantes locais e consumidores finais.


 

O SOFRIMENTO DOS AFRICANOS ESCRAVIZADOS

Os navios negreiros (ou tumbeiros) eram embarcações que serviam para transporte de negros visando a escravidão.

Os negros eram capturados na África e levados para portos onde aguardavam o embarque. Tratados como uma mercadoria qualquer, sofriam todos os tipos de humilhação e maus-tratos.

Embarcavam então em navios negreiros, confinados nos porões sem espaço, luz ou circulação de ar. Isso provocava a morte de muitos cativos e propiciava a contaminação por doenças variadas.

O chão dos porões ficava forrado com dejetos, o que exalava um fedor insuportável, às vezes suavizado com água salgada e vinagre. Ainda assim se alastravam doenças como escorbuto, diarreia e sarampo.

Às vezes ocorriam revoltas dentro dos navios negreiros, bastando que alguns indivíduos conseguissem se soltar. A tripulação então reagia com armas de fogo, o que leva à morte muitos revoltosos. Quando alguém era capturado num levante, sofria castigos extremos publicamente para servir de exemplo e desencorajar os demais.

Os africanos eram tratados como se fossem um único povo, cuja cultura era considerada "inferior". Por isso eram obrigados a trabalhar em situações degradantes, vivendo de forma precária, sendo punidos com violência caso não cumprissem as ordens que lhes eram dadas. Existiram exceções a essa regra? Sim. Alguns africanos conseguiram viver em melhores condições, outros até mesmo chegaram a ter escravos seus. Mas foram poucos. A regra era: submissão, exploração, desrespeito, humilhação.

 

A resistência dos escravos Muitos escravos não aceitavam a vida que lhes era imposta e resistiam de diversas formas: suicidavam-se, não cumpriam as ordens que recebiam, assassinavam seus senhores, fugiam, rebelavam-se. Alguns africanos sofriam uma depressão profunda, chamada de banzo, o que podia levar a morte por inanição. Os senhores de escravos tinham horror a qualquer tipo de resistência, pois além de temerem por suas vidas, temiam perder todo o dinheiro investido na compra do seu escravo. Muitos escravos fugitivos se organizaram em quilombos.

Outra forma de resistência era o assassinato do senhor ou de funcionários, como o feitor, por exemplo.

 

Durante os quatro séculos em que a escravidão existiu no Brasil, muitas rebeliões ocorreram, mas pouco se conhece sobre elas, já que nessa época as autoridades máximas eram os próprios senhores de escravos, e poucos deles registraram esses episódios. A rebelião de escravos que mais teve repercussões foi a Revolta dos Malês, em 1835 na Bahia

Os africanos resistiram e se impuseram de diversas formas, legando-nos, por exemplo, palavras do nosso vocabulário, pratos de nossa culinária, festas populares, crenças religiosas, instrumentos musicais. A transmissão de seus valores culturais talvez seja a mais importante forma de resistência dos africanos, que não se renderam aos padrões que lhes foram impostos. Os africanos e seus descendentes participaram da construção do Brasil e do povo brasileiro, e não podemos pensar a nossa cultura sem entender (e reverenciar) a nossa herança africana.


A SOCIEDADE DO ENGENHO, UMA REALIDADE LUCRATIVA PARA UNS,  

VIOLENTA PARA MUITOS

Por aproximadamente 200 anos a vida política e economia da colônia portuguesa na América girou em torno às atividades realizadas nas Grandes Fazendas, onde funcionavam os Engenhos de produção de açúcar. Já discutimos em aulas anteriores que, além de muito lucrativo aos portugueses, estes já tinham experiência em trabalhar com a cana e as terras brasileiras eram muito apropriadas à produção. Nos primeiros séculos de colonização no Brasil, devido à polarização de engenhos no Nordeste, esta região tornou-se o centro econômico da colônia, mantendo inclusive a capital, Salvador.

No intuito de promover a rápida dispersão do sistema açucareiro pelo território colonial, a Coroa Portuguesa passou a dar lotes de terras em regime de sesmarias, onde a pessoa que recebesse a terra deveria explorá-la economicamente, gerando dividendos à metrópole. Ao longo dos anos, várias destas sesmarias progrediram, tornando-se importantes centros de produção de açúcar colonial, representando um sistema lucrativo tanto para a Coroa, quanto para o Senhor de Engenho.

A grande maioria dos Engenhos de Açúcar continha a residência do senhor e de sua família, figurando como o prédio mais luxuoso e confortável do complexo. Os escravizados residiam nas chamadas Senzalas, geralmente eram um grande galpão construído para acomodar sem conforto centenas de trabalhadores, que por sua vez iriam exercer sua força de trabalho nas grandes lavouras de cana, plantando, colhendo e produzindo o açúcar, que depois de pronto era enviado à Portugal em navios lusitanos.

As etapas de transformação da cana-de-açúcar no produto final consistiam na colheita, realizada pelos escravizados e levadas às casas de moendas, onde através de tração animal ou rodas d’água, eram moídas para extrair todo o caldo. Posteriormente este caldo era cozido até virar melaço e deixado em formas de barro para purgar ou purificar. Depois de 20 dias, era cortado, empacotado e embarcado.

A vida social dos Engenhos consistiam numa hierarquia liderada pelo Senhor e de sua família, administrador e controlador de tudo o que ocorria em suas fazendas. Para auxiliá-lo no controle do processo de produção, existiam os feitores, que além de cuidar da feitura do açúcar, eram responsáveis pelo con-trole dos escravizados, agindo com grande violência na maioria dos casos. O trabalho pesado de produção geralmente ficava a cargo do seres humanos escravizados, em sua maioria capturados em sua terra natal na África, arrancados de suas casas à força, sobreviviam a uma viagem longa em condições sub-humanas e obrigados a trabalhar compulsoriamente nas terras de outro homem. Muitos optavam pelo suicídio como forma de resistência, outros optavam por se rebelar contra seus opressores ou fugir, embrenhando-se nas matas até encontrar refúgio nas comunidades quilombolas. Por mais de 300 anos esse flagelo que foi a escravidão humana marcou profundamente sociedade brasileira, deixando uma dívida social gigantesca que ainda não foi totalmente paga para a comunidade negra do Brasil.




 

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