Fundamentalismo religioso: quando a fé se torna intolerante
Já se vai longe o dia em que pesquisadores e estudiosos dos mais diversos setores se deram ao trabalho de analisar detalhadamente o avanço do fundamentalismo religioso presente em inúmeras Igrejas. O objetivo de tais estudos eram vários, contudo, um ponto em questão era comum a todos: o crescimento e o avanço de grupos religiosos radicais/fundamentalistas.
Sem a necessidade de grandes esforços, podemos encontrar artigos, reportagens, revistas e livros tratando deste tema. Num dado momento, temos nossa atenção dirigida à uma questão: qual a razão para tanto se falar sobre fundamentalismo religioso em tempos de paz entre as religiões? A resposta pode não ser tão curta quanto a questão formulada. Pode ser composta por argumentos oriundos de diferentes frentes de estudos, que tiveram seu interesse pelo tema despertado a partir de atitudes e discursos adotados por representantes de diversos segmentos religiosos. Mas, como ponto chave para todos podemos indicar a incitação ao ódio e a intolerância promovida por esses grupos a partir do momento em que elegem uma “verdade absoluta” sobre a qual jamais aceitarão qualquer questionamento.
Para os fundamentalistas, qualquer pessoa que pense ou se expresse de modo diferente ao por eles apregoados, passam a ser identificadas como inimigas ou, quando não, como alguém que exige um trabalho intenso de “conversão”. Daí uma dedução pode ser extraída: na medida em que a convivência com o diferente e o aprender com a experiência religiosa do outro não é admitida, o estímulo ao ódio está implantado tendo como argumento fundante a pretensão de serem eles, os fundamentalistas, os donos da verdade considerada absoluta e que fora dela não pode haver salvação.
Nesta esfera de pensamento, o espaço para que cada indivíduo possa ouvir e apreender com franqueza e a partir de então se expressar, torna-se inexistente. O fundamentalismo se aproxima muito de determinadas seitas e fraternidades que se fecham por completo em torno de sua percepção religiosa. Podemos dizer, ainda, que o fundamentalismo chega ao extremo quando sua maneira de pensar e de viver a religiosidade se traduzem em atitudes de violência culminando num projeto de poder, tornando-se uma fonte geradora do extremismo. Deste para o fascismo há um espaço muito pequeno, uma linha muito tênue a ser ultrapassada.
Contudo – e temos aqui um dos pontos mais preocupantes -, as pessoas envolvidas por tais propostas, não se enxergam, em sua maioria, como fascistas por não se enxergarem como tal. A elas, é transmitida a ideia de terem sido chamadas à serem defensoras das “leis de Deus e suas vontades”, as quais lhes são “ensinadas” por religiosos detentores de uma oratória extremamente convincente e da realização de atos religiosos recheados de euforia e emoção.
Não bastasse o modo de pensar, o comportamento de seguidores do fundamentalismo religioso é levado às vias de fato quando se dão ao direito de agredirem verbal ou fisicamente aqueles que deles discordam ou que se dão o direito de se expressarem de modo considerado não ortodoxo.
Ora, quem é o intolerante nesta história? Quem ou qual grupo pode ser
responsabilizado por inculcar na cabeça das pessoas tais pensamentos?
Que poder de convencimento é esse, que leva as pessoas a praticarem atos
de intolerância e ódio contra semelhantes em nome de sua religião ou filosofia.
Há que se observar que tais práticas, em sua maioria, se dão a partir de
grupos que ainda não reconhecem o verdadeiro sentido das filosofias ou religiões,
como fonte e raiz de uma vida partilhada e solidária, fraternal e humanitária. Antes, preferem a postura fanática,
violenta e raivosa e se lançam
contra povos e nações que não o têm como Deus soberano.
Hoje, estamos diante de uma ascensão de determinados grupos religiosos que representam grande perigo para o Estado Laico e a sociedade devido ao seu potencial fundamentalista, assemelhando-se, excetuando-se os referenciais religiosos nos quais se apoiam.
O fundamentalismo que os inflama, chegando ao poder, não tardará em proibir qualquer tipo de manifestação cultural ou religiosa que não se enquadre em suas normas sociais, políticas ou religiosas.
O fundamentalismo existe em praticamente todas as expressões religiosas da humanidade, mas não é um fenômeno causado pela instituição religiosa em si, mas sim pelo fiel.
O fundamentalismo se encontra escrito na experiência do próprio fiel, que não consegue dialogar com outras formas de pensar, dentro ou fora do seu contexto religioso e, por isso, defende agressivamente sua verdade de fé cristalizada e imutável, fechada em sua própria auto interpretação doutrinária.
Todavia, há outras variações do emprego da expressão “fundamentalismo” que podem ser observadas no debate público, como “fundamentalismo político”, “fundamentalismo econômico” etc.
Além disso, no âmbito religioso, a palavra “fundamentalismo” também se
associa a atos violentos, como o terrorismo, e a regimes políticos
teocráticos, podendo, assim, ser confundida com outras duas expressões: fanatismo e extremismo (ou ainda sectarismo).
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