O coronelismo e o voto de cabresto
No final do século XIX, a economia
brasileira continuava a ser agrária: a maioria da população residia e
trabalhava na zona rural e era controlada pelos grandes proprietários de terra,
chamados coronéis.
Por sua vez, a Constituição republicana
havia instituído o voto aberto, não secreto.
Os coronéis, então, criaram maneiras
para controlar o processo eleitoral: impunham o nome de determinado candidato
aos eleitores e os coagiam por meio da atuação dos jagunços. Além disso, em
troca do voto prometiam aos eleitores favores de diversas espécies, como
proteção, dinheiro, roupas, emprego e cuidados médicos, que nem sempre eram
cumpridos. Essa prática ficou conhecida como o voto de cabresto.
Além de controlar o eleitorado, os
coronéis fraudavam as eleições para garantir o resultado desejado. Habilitavam,
por exemplo, eleitores fantasmas, substituíam os votos das urnas e alteravam as
planilhas com o resultado final.
Voto de Cabresto
O voto de
cabresto representou uma forma eleitoral impositiva e arbitrária imposta
pelos coronéis.
Definição
Voto de
cabresto é uma expressão dada pela superposição de duas palavras. Assim, temos Voto,
que é o exercício pleno da democracia; e a palavra Cabresto, do latim capistrum,
que significa "mordaça ou freio".
Dessa
maneira, temos um conceito quase paradoxal, na medida em que representa a
democracia amordaçada e guiada como um animal de carga.
Voto de Cabresto na República Velha
Nas regiões mais carentes do Brasil, especialmente no nordeste, esse
clientelismo é uma prática recorrente desde os tempos do Império.
Fora lugar comum durante a República Velha e talvez perdure até os dias
de hoje.
Isso acontecia porque nosso sistema eleitoral era frágil e fácil de ser
adulterado e manipulado segundo os interesses escusos das elites agrárias.
Nesse caso, o eleitor só necessitava entregar pessoalmente um pedaço de
papel com o nome do seu candidato.
Note que ele poderia ser escrito pelo próprio coronel, já que a maioria desses
eleitores nem mesmo sabia ler, e depositá-lo numa urna, num saco de pano.
É notável, nesse contexto, a troca de favores que constituiu o sistema
de "voto em aberto", o qual ficara então conhecido como "voto de
cabresto",
Voto de Cabresto e Coronelismo
Não é possível pensar em voto de cabresto sem considerar o Coronelismo ou a violência deste regime.
É conhecido o fato de o coronel ser um
fazendeiro muito rico. Ele lançava mão de seu poder econômico e militar para
garantir a eleição dos seus apadrinhados políticos.
Não raramente, esses coronéis obrigavam sua
clientela, até mesmo com violência física, em casos extremos, podiam chegar a
morte.
Esse domínio político sobre uma região é
denominado "curral
eleitoral" os quais elegem os candidatos apoiados pelo líder
local.
Já que o voto era aberto, ou seja, era
possível identificar cada eleitor, os votantes eram pressionados e fiscalizados
por jagunços do coronel.
Esta situação só teve fim (ou foi reduzida),
após a Revolução de 1930, quando Getúlio Vargas ascende ao poder, combatendo o
coronelismo.
Mais adiante, em 1932 entra em vigor o
primeiro Código Eleitoral do Brasil, que garante o voto secreto e, com isso,
golpeia duramente o poder das elites rurais.
Tipos de Voto de Cabresto
Para
garantir o controle político de seu “curral eleitoral”, os coronéis manipulavam
o poder político. Destacam-se o abuso de autoridade, a compra de votos ou a
utilização da máquina pública.
Não era raro
também, a criação de "votos fantasmas", troca de favores e fraudes
eleitorais. Essas, eram forjadas a partir de documentos falsificados para que
menores e analfabetos pudessem votar.
Outra
maneira recorrente era a fraude da contagem de votos, quando os coronéis
desapareciam com urnas para adulterar seu resultado. Contudo, a forma mais
eficaz era a coerção pela violência física e psicológica.
Atualmente,
as práticas de “voto de cabresto” tornaram-se mais sofisticadas. Elas continuam
a vigorar, inclusive nos centros urbanos, onde a figura paramilitar a exercer a
violência são as milícias.
Logo, a
vontade do eleitor é violada por narcotraficantes, milícias, líderes religiosos
e pela manipulação das massas. E, seus imaginários, são levados por meio do
clientelismo gerado pelos programas assistenciais.
Merece
destaque, nos dias de hoje, o chamado "voto de cajado", do qual
pastores e líderes espirituais “impõem” aos fiéis um certo candidato da igreja.
O reflexo
disso é o fortalecimento da bancada religiosa no Congresso e outras instâncias
representativas brasileiras.
A política dos governadores
Durante o Governo de Campos Sales
(1898-1902), iniciou-se a chamada política dos governadores. A prática
consistia num acordo em que os governadores estaduais, em apoio ao governo
federal, ajudavam a eleger deputados e senadores favoráveis ao presidente da
República. Em troca, este prometia não intervir no governo estadual, o que
garantia a continuação do poder dos grandes fazendeiros locais.
Nesse período também foi criado um
órgão sob controle do presidente, chamado Comissão de Verificação. Esse órgão
tinha a função de dar a palavra final sobre a posse de deputados e senadores
eleitos. Aqueles que fossem da oposição sofriam a degola, isto é, não eram
empossados, em geral sob a acusação de fraude.
No plano municipal, os governadores
recebiam o apoio dos coronéis. Criava-se, assim, uma corrente que, de um lado,
ligava os poderes dos grandes fazendeiros estaduais aos redutos eleitorais nos
municípios, e de outro, associava esses fazendeiros ao governo federal.
A Política dos Governadores foi um acordo político
firmado durante o período da República Velha (1889-1930).
O intuito era unir os interesses dos políticos
locais marcado pelas oligarquias estatais da época juntamente ao governo
federal, para assim, garantir o controle do poder político.
Contexto Histórico
Durante o governo do paulista Campos Salles
(1898-1902) o poder federal uniu-se às oligarquias estaduais concentrada nas
mãos dos latifundiários. O intuito era estabelecer uma relação amistosa entre
as partes.
Dessa forma, a troca de favores era clara: o
governo federal concedia poder e liberdade política e ainda benefícios
econômicos para as oligarquias estaduais.
Em troca, favoreciam a escolha dos candidatos por
meio do voto aberto, comandadas e manipulada pelos coronéis, os quais
representavam a força local.
Com isso, fica claro que as elites locais dominavam
a cena política e econômica dos estados, sendo monopolizada por famílias nobres
e muitas vezes comandadas pelos coronéis.
Esse movimento ficou conhecido como "coronelismo", em
que eles partilhavam a metodologia do voto de cabresto (voto aberto). Isso
viabilizou a corrupção desde fraudes eleitorais e compra de votos. Ademais, o
aumento da violência por meio da dominação dos coronéis nos denominados
“currais eleitorais”.
Através da “Comissão Verificadora dos Poderes”, a
legitimação dos governadores eleitos nos estados era manipulada.
Isso reforçava a política dos governadores diante
da triagem feito pelos coronéis apoiados e confiantes do poder federal.
Se caso fosse necessário, ocorria a exclusão dos
políticos da oposição, os quais sofriam a “degola”, ou seja, a fraude
eleitoral, sendo impedidos de tomar a posse do cargo.
Essa política foi confundida com a política do
café com leite. Nesse modelo, os fazendeiros de minas, que dominavam a
produção leiteira e os latifundiários paulistas, produtores de café, revezavam
o poder na presidência do país.
No entanto, diferente dessa, a política dos
governadores impulsionou tal estrutura necessária para sua consolidação mais
adiante.
Com efeito, São Paulo e Minas Gerais dominavam a
cena política e econômica do país. Na segunda metade do século XIX, o Brasil
era o maior produtor e exportador de café.
Desde a Proclamação da República, em 1889, cujo
modelo monárquico foi substituído por uma estrutura presidencialista
republicana, a figura do presidente passava a ser a mais importante.
As oligarquias que possuíam e controlavam o poder
local estatal, passaram a desenvolver estratégias junto ao poder federal.
Esse método de benefício dos grandes fazendeiros e
do governo federal somente terminou com a Era Vargas (1930-1945) e
como consequência fortaleceu a figura dos coronéis.
Além do governo de Campos Sales, o criador da
política, outros presidentes do período de república velha
usufruíram do sistema da Política dos Governadores:
- Rodrigues Alves (1902 a 1906)
- Afonso Pena (1906 a 1909)
- Nilo Peçanha (1909 a 1910)
- Hermes da Fonseca (1910 a 1914)
- Venceslau Brás (1914 a 1918)
- Delfim Moreira (1918 a 1919)
- Epitácio Pessoa (1919 a 1922)
- Arthur Bernardes (1922 a 1926)
- Washington Luís (1926 a 1930)
O acordo do café com leite
São Paulo e Minas Gerais representavam,
durante a Primeira República, as principais forças econômicas do país: o
primeiro estado era responsável pela maior parte da produção de café e Minas,
além de produzir café, respondia também pela criação do gado leiteiro.
Ao mesmo tempo, ambos estados eram
populosos e tinham o maior número de eleitores. Isso tornava os fazendeiros
desses dois estados os mais fortes do Brasil. Os líderes políticos de São Paulo
e Minas indicavam e sustentavam o presidente de acordo com seus interesses e
eram respaldados pelos grupos dominantes dos demais estados.
Em Minas Gerais, o Partido Republicano
Mineiro (PRM) e, em São Paulo, o Partido Republicano Paulista (PRP), uniam as
elites regionais e estaduais. Atuando de forma coesa, controlavam a política
nacional, num esquema que passou à história com o nome de política do café com
leite. Assim, buscaram garantir que a partir de Campos Sales, os presidentes da
República fossem indicados por paulistas ou mineiros. E assim conseguiram nas
eleições presidenciais até 1930, com apenas duas exceções: a do alagoano Hermes
da Fonseca e a do paraibano Epitácio Pessoa.
Política do Café com Leite
A política
do café com leite foi uma estrutura de poder empregado no Brasil durante a
República Velha (1889-1930), que consistiu no predomínio político dos
cafeicultores de São Paulo e dos fazendeiros de Minas Gerais, que se revezavam
ocupando a presidência do país.
Desde os
tempos do Império a aristocracia cafeeira dominava a vida política do país, de
modo a defender seus interesses econômicos.
Durante os
primeiros governos republicanos, os cafeicultores que não participaram
diretamente do golpe militar que proclamou a República foram descriminados.
Com isso, a
influência política dos produtores de café só voltou a ser significativa a
partir do terceiro governo republicano, quando Prudente de Moraes o primeiro
presidente civil, assumiu a Presidência.
O controle
do voto da população rural pelos coronéis ficou conhecido popularmente como
"voto de cabresto". Por meio do voto de cabresto eram eleitos os
chefes políticos locais (municipais), regionais (estaduais) e federal (o
governo central). A fraude, a corrupção, e o favorecimento permeavam todo o
processo eleitoral de modo a deturpar a representação política.
No âmbito municipal os coronéis locais dependiam do governador para
obtenção de auxílio financeiro para obras públicas e benfeitorias gerais, daí a
necessidade de apoiar e obter votos para os candidatos de determinada facção
das oligarquias estaduais. As oligarquias estaduais também dependiam de votos
para conquistarem ou assegurarem seu domínio político, daí a necessidade de
barganharem com os coronéis locais. Semelhante condição de dependência política
se manifestava nas relações do governo federal com os governos estaduais.
A Política
dos Governadores estabelecia que os grupos políticos que governavam os estados
dariam irrestrito apoio ao presidente da República, em contrapartida o governo
federal só reconheceria a vitória nas eleições dos candidatos ao cargo de deputado
federal pertencentes aos grupos que o apoiavam.
As raízes da
liderança paulista e mineira na política brasileira, durante a República Velha,
encontravam-se na própria Constituição republicana, promulgada em 24 de
fevereiro de 1891.
A Constituição
de 1891 determinava a forma federativa com ampla autonomia dos estados e a sua
representação proporcional na Câmara dos Deputados, isto é, cada estado elegia
um número de Deputados Federais proporcional ao número de seus habitantes.
Os estados de
São Paulo
e Minas Gerais possuíam mais de um terço da população brasileira e formavam os
maiores colégios eleitorais do país.
A supremacia
política nacional, desses dois estados, se convencionou chamar de “Política do
Café com Leite”, que só se definiu em suas linhas completas, a partir da
Política dos Governadores, que consistia numa troca mútua de favores entre os
governantes estaduais (oligarquias) e o Governo Federal.
A “Política
do Café com Leite” caracterizou-se pela liderança dos chefes políticos do Partido
Republicano Paulista (PRP) e do Partido Republicano Mineiro (PRM).
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