Escravidão é a propriedade de uma pessoa por outra pessoa, negando
àquela todos os direitos. As pessoas escravizadas, chamadas escravos,
têm de trabalhar para seus donos, fazendo tudo o que eles mandam. No
passado, muitas sociedades tinham escravos, comprados em mercados que
vendiam as pessoas como se fossem mercadoria de consumo. Hoje, quase
todas as sociedades consideram a escravidão um crime e acreditam que a
liberdade individual é um dos direitos humanos básicos.
Uma pessoa podia ser escravizada de várias
maneiras. Alguns seres humanos se tornavam escravos depois de ser capturados em
guerras ou em invasões. Outros viravam escravos por ter cometido crimes ou por
não poder pagar suas dívidas. Algumas pessoas eram vendidas como escravas por
seus parentes. Outras ainda eram escravizadas porque seus pais também eram
escravos — ou seja, já nasciam escravas.
Diferentes sociedades tinham regras distintas
para a escravidão. Muitos escravos dos muçulmanos, por exemplo, deviam ser
liberados depois de seis anos. As pessoas escravizadas dos Estados Unidos e do Brasil,
contudo, permaneciam escravas para sempre. Eles não podiam ter propriedades.
Seus casamentos não eram legais e suas famílias podiam ser desfeitas a qualquer
momento, com a venda de um membro da família de escravos a outros senhores.
Havia leis contra matar ou maltratar escravos, mas os governos não se
esforçavam para que fossem cumpridas.
Os escravos não recebiam nenhum tipo de
pagamento, não podiam escolher seu emprego nem podiam pedir demissão.
A ESCRAVIDÃO E O TRÁFICO NEGREIRO
A escravidão é bem mais antiga do que o tráfico do povo
africano. Ela é tão antiga quanto à própria história, quando os povos
derrotados em batalhas eram escravizados por seus conquistadores. Neste
caso, citamos como exemplo os hebreus, que foram vendidos como
escravos desde o começo da História.
O
comércio de pessoas que se tornavam escravizadas estava presente no continente
africano desde os egípcios antigos. As pessoas se tornavam escravas na África
principalmente em razão das guerras: membros de tribos rivais eram reduzidos à
condição de cativos, ou seja, escravos. As guerras se davam entre os diversos
reinos africanos e, também, por meio dos conflitos que ocorriam entre as
diferentes etnias africanas. Outra forma pela qual as pessoas se tornavam
escravas era através das dívidas.
Na África, o comércio de escravos teve início por volta do século II a.
C., quando o faraó Snefru retornou da região da Núbia com milhares de
prisioneiros de guerra que se tornaram escravos no Egito Antigo.
Posteriormente, gregos e romanos continuaram a traficar e a escravizar
os africanos que se tornaram prisioneiros de guerra. É bom ressaltar que
grande parte do norte da África integrou o Império Romano, e os gregos
dominaram por muito tempo o mar Mediterrâneo, que liga o continente
europeu com o continente africano. Em razão disso, vários africanos
foram escravizados pelos romanos e gregos.
Com a conquista árabe, no século XII, principalmente no norte da
África, o tráfico de escravos e o número de pessoas escravizadas na
África aumentaram. Porém, o comércio de escravos africanos aumentou
significativamente a partir do tráfico negreiro inaugurado pelos
europeus no contexto da expansão marítima europeia, no século XV (Idade
Moderna).
No Brasil, tráfico
negreiro foi uma atividade realizada entre os séculos XV ao
XIX. Os prisioneiros africanos eram comprados nas regiões litorâneas da África
para serem escravizados no continente europeu e no continente americano. Essa
migração forçada resultou na chegada de milhões de cativos africanos ao Brasil.
No decorrer do século XV, os
europeus, no intuito de expandir suas atividades comerciais, exploraram a costa
africana. Com a colonização da América, necessitavam de mão de obra para
trabalhar nas terras conquistadas no “Novo Mundo”.
O desenvolvimento do tráfico
negreiro no Brasil está associado com a instalação da produção açucareira que
aconteceu no país, em meados do século XV. O tráfico ultramarino de africanos,
com o objetivo de escravizá-los, tem relação direta com a necessidade
permanente de trabalhadores nos engenhos
e também com a diminuição da população de indígenas.
O
último fator que explica o início do tráfico negreiro era o
funcionamento do próprio sistema econômico mercantilista. Na lógica
desse sistema, o tráfico ultramarino de escravos era um negócio
relevante tanto para a metrópole quanto para colonos que se lançassem
nesse empreendimento.
Dentro do funcionamento do sistema
colonial escravista, a existência do tráfico negreiro atendia a uma
demanda por escravos das colônias e, por ser uma atividade altamente
lucrativa, atendia aos interesses da metrópole e da colônia.
Isso porque o envolvimento de Portugal com
o tráfico de africanos, com o intuito de escravizá-los, era um negócio
que existia desde meados do século XV. Os portugueses possuíam uma série
de feitorias na costa africana e nela compravam
africanos para enviá-los como escravos para trabalharem nos engenhos
instalados nas ilhas atlânticas.
As regiões das quais a maior
quantidade de africanos foi trazida para o Brasil foram Senegâmbia (Guiné), durante o
século XVI, Angola e Congo, durante o século XVII, e
Costa da Mina e Benin, durante o século XVIII.
Durante o século XIX, os ingleses proibiram o Brasil de traficar africanos de
locais acima da linha do Equador.
Até o início do século XVIII, antes das leis que começaram a proibir o
comércio de escravos, os negros era tratados como uma mercadoria
semelhante a qualquer outra.
Assim, os escravizados eram
transportados nos porões dos navios onde permaneciam confinados em
viagens que poderiam durar dois meses, até a chegada ao destino.
As condições
de viagem eram extremamente desumanas, e os poucos relatos que existem da forma
como os africanos eram trazidos para as Américas reforçam isso. O local no qual
os africanos eram aprisionados (o porão) era geralmente tão baixo que os
africanos não conseguiam ficar em pé e o espaço era tão apertado que muitos
tinham que ficar na mesma posição durante um longo período.
A alimentação era escassa e era
resumida a uma refeição por dia. O historiador Jaime Rodrigues aponta que no
começo das viagens (quando a possibilidade de revolta dos africanos era maior),
os traficantes de escravos davam uma quantidade de alimentos menor ainda, para
evitar que eles se rebelassem.
A água
também quase nunca era potável e os alimentos disponibilizados eram feijão,
farinha, arroz e carne-seca. A má alimentação, principalmente pela falta de uma
dieta rica em vitaminas, fazia com que doenças, como o escorbuto (causada pela
falta de vitamina C), fossem proliferadas. Outras doenças também se espalhavam
pela sujeira dos locais que abrigavam os africanos. Os porões eram escuros,
sujos e abarrotados de gente, de tal maneira que até respirar era difícil.
Outras
doenças que grassavam nos navios negreiros eram varíola, sarampo e doenças
gastrointestinais. A mortalidade
média era de ¼ de todos os africanos embarcados.
A escravidão no Brasil inicialmente foi para obter mão de obra para os
engenhos de açúcar. entre os
séculos XVI e XIX, não trabalhavam somente nos engenhos de cana-de-açúcar. ntre
os séculos XVI e XVII, os engenhos de cana-de-açúcar se constituíram como
principal atividade econômica no período colonial, contudo muitos escravos
trabalhavam (principalmente no Rio de Janeiro, Pernambuco e em outras cidades
litorâneas) como estivadores, barqueiros, vendedores, aprendizes, mestres em
artesanato e serviços domésticos.
A partir dos
séculos XVIII e XIX, com a ascensão da mineração em Minas Gerais e Goiás,
milhares de escravos foram trabalhar nas minas e demais atividades (como a
agropecuária) que movimentavam a economia nas regiões auríferas. Outras formas
de trabalho escravo foram: a criação de gado no nordeste brasileiro; os
trabalhos desempenhados no tropeirismo (conhecidos como tropeiros, exerciam
atividades comerciais de uma região à outra); e o trabalho de zelar e tratar
dos animais carregadores de mercadorias.
Nas cidades,
as formas de trabalho escravo variavam bastante. Existiam os escravos
prestadores de serviço, isto é, os escravos de ganho, carpinteiros, barbeiros,
sapateiros, alfaiates, ferreiros, marceneiros, entre outros. As mulheres também
exerciam o trabalho escravo: geralmente elas trabalhavam como amas de leite,
doceiras e vendedoras ambulantes (ou seja, as chamadas “negras de tabuleiro”).
Portanto, no Brasil existiu uma grande diversidade nas formas do trabalho
escravo.
O tráfico de escravos era essencial para atender a alta demanda por escravos no Brasil. Os africanos eram trazidos ao
Brasil para fazer um trabalho forçado, sendo tratado de forma desumana, pior
que um animal. Quando os negros chegavam ao Brasil, eles eram vendidos em
feiras livres, como se fossem uma mercadoria. Os negros eram impedidos de
praticar sua religião ou qualquer forma de cultura de sua origem africana,
porém, muitos deles davam um jeito de fazer de forma escondia. A capoeira,
dança de origem africana, que se tornou uma espécie de luta, era abominada
pelos brancos, e sua prática era tida como um crime. As mulheres também eram
escravizadas, e em maioria exerciam funções domésticas. As crianças começavam a
trabalhar quando completavam cerca de 8 anos.
A história da escravidão
abrange muitas culturas,
nacionalidades
e religiões desde os tempos
antigos até os dias atuais. No entanto, as posições sociais, econômicas
e legais dos escravos diferiram bastante em diferentes sistemas de escravidão
em diferentes épocas e lugares. A escravidão tornou-se comum em grande parte da
Europa durante o início da Idade Média e continuou nos séculos
seguintes. As primeiras proibições de tráfico escravo surgiu na Europa, 1803, abolição da
Dinamarca-Noruega do comércio de escravos, aprovada em 1792, entra em vigor. Em 1817 a França abole o tráfico de escravos, mas a lei não entra em vigor
até 1826. Em 1819, Portugal compromete-se a abolir o tráfico de
escravos, mas somente ao norte do equador, o que significa que o Brasil, o
maior importador de escravos, poderia continuar a participar no comércio de
escravos. Em 1820 Espanha abole o comércio de escravos. As leis abolicionistas são como
conhecemos a legislação que promovia a emancipação dos escravos de
maneira gradual, uma vez que não
haveria a renovação dessa. Ainda assim, os escravocratas fizeram de tudo
para que essa transição fosse o mais lenta possível. As leis abolicionistas, portanto, estão,
em parte, dentro desses esforços de impedir que a abolição acontecesse
de maneira imediata e irrestrita e de promover determinados avanços para
conter a força do abolicionismo,.elas foram aprovadas entre a Lei Eusébio de
Queirós (1850) e a Lei Áurea
(1888). As leis aprovadas nesse período foram a Lei dos Ventre Livre (1871) e a
Lei dos Sexagenários (1885). Ambas foram resultado da movimentação dos
abolicionistas, assim como da reação de escravocrata.
Você
sabe o que é ser escravizado? Sabia que a escravidão não começou no Brasil?
A
escravidão se caracteriza por sujeitar um homem ao outro, de forma completa: o
escravizado não é apenas
propriedade do senhor, mas também sua vontade está sujeita à autoridade do dono
e seu trabalho pode ser obtido até pela força.
Esse
tipo de relação não se limita, pois, à compra e venda da força de trabalho,
como acontece, por exemplo, no
Brasil de hoje, em que o trabalhador fornece sua força de trabalho ao
empresário por um preço
determinado, mas mantém sua liberdade formal. Na escravidão, transforma-se um
ser humano em propriedade de
outro, a ponto de ser anulado seu próprio poder deliberativo: o escravizado
pode ter vontades, mas não
pode realizá-las.
A
escravidão não é recente na história da humanidade. Já na Antiguidade,
verificamos sua ocorrência. Na Mesopotâmia e no Egito, quando da
execução de obras públicas como barragens ou templos, grande número de trabalhadores era
recrutado. Tornavam-se propriedade dos governantes que lhes impunham sua autoridade e determinavam as
tarefas. Não eram, contudo, vendidos e sua atividade podia cessar quando do fim da construção,
retornando os trabalhadores às suas tarefas anteriores. As relações que estabeleciam com seus
proprietários eram eventuais, diferentes daquelas que ocorriam na Grécia – principalmente Atenas – e Roma,
onde a escravidão era a forma mais característica de extração de
trabalho.
Escravizados
eram comprados ou obtidos, após saques e batalhas e nunca perdiam – à exceção
de casos isolados – sua condição. A organização das sociedades ateniense
e romana baseava-se, em grande parte,
na existência do escravizado que, com seu trabalho, gerava riquezas para elas.
Tão
comum era a ideia da existência do escravizado na Antiguidade Clássica que
Aristóteles, o filósofo grego,
costumava dizer que o escravizado, por natureza, não pertencia a si mesmo, mas
a outra pessoa. Na sua opinião, havia pessoas que a natureza destinou a
serem livres e outras que foram por ela destinadas
a serem escravizadas. Com isso, o filósofo grego escondia o caráter principal
da escravidão, qual seja, sua
historicidade. Ninguém era escravizado porque a natureza determinou, mas por
força de condições históricas
específicas concretas, diferentes em distintos momentos históricos. Nada tem a ver com a natureza, como queria Aristóteles.
De
qualquer forma, o apogeu de Grécia e Roma, com seu escravismo, pertencem ao
passado e foram superadas por
outras formas de organização econômica e social.
Texto
adaptado do livro A escravidão no Brasil/ Jaime Pinsky: São Paulo: Editora contexto,
2019. (Repensando a História).
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