EIXO TEMÁTICO: MUNDO MODERNO, COLONIZAÇÃO E REFORMA ÉTNICO-CULTURAIS (1500 -1808)
Tema: 2 - Representações Européias do Novo Mundo
Grandes Navegações
No imaginário europeu da época das Grandes Navegações, o mundo desconhecido era habitado por criaturas bestializadas ou fantásticas, como os “homens com cabeça de cachorro” descritos na obra de Marco Polo.
1. Portugal e o ciclo oriental de navegações
Para realizar o Ciclo Oriental de Navegações, os portugueses organizaram sucessivas expedições que devassaram o litoral atlântico africano. Depois, penetrando o Oceano Índico, navegaram até Calicute, na Índia.
Coube a Portugal o pioneirismo e a liderança inicial no processo de expansão mercantil européia, desenvolvendo o Ciclo Oriental de Navegações, isto é, um conjunto de expedições marítimas procurando chegar ao Oriente; navegando no sentido sul-oriental, o que implicou, inicialmente, o desenvolvimento do litoral africano.
O pioneirismo português deveu-se a um conjunto de fatores, tais como a centralização política, resultando na formação de uma monarquia nacional precoce. Esse processo iniciado ainda na dinastia de Avis, depois da Revolução de 1385. Os reis de Avis, aliados à dinâmica burguesia mercantil lusa, voltaram-se para a empresa náutica planejando as atividades do Estado no sentido de desenvolvê-la, a partir dos incentivos aos estudos e à arte náutica: estes ficaram a cargo do príncipe-infante D. Henrique – o Navegador – que em 1418 criou a “Escola de Sagres”, denominação figurada de um grande centro de estudos náuticos situado no promontório de Sagres. Portugal gozava nessa época de uma situação de paz interna: além disso, sua posição geográfica privilegiada – as terras mais a oeste da Europa – na rota Mediterrâneo-Atlântico possibilitou uma certa tradição ao comércio marítimo através de vários postos comerciais relativamente desenvolvidos.As navegações e as conquistas portuguesas
Os portugueses lançaram-se aos mares, dando início ao “Ciclo Oriental”, e promovendo o devassamento do litoral africano. Neste ciclo, destacam-se as seguintes conquistas: em 1415, uma expedição militar tomou Ceuta (Noroeste da África), na passagem do Mediterrâneo para o Atlântico, uma cidade para onde convergiam as caravanas de mercadores mulçumanos transaarianos, e que dava a Portugal o controle político-militar do estreito de Gilbratar. Essa vitória, embora seja considerada o marco inicial da
expansão marítima lusa, redundou em fracasso comercial, uma vez que as caravanas africanas desviaram o tráfico mercantil para outras praças ao norte do continente. Procurando atingir as regiões produtoras das mercadorias africanas, os portugueses passaram a contornar gradativamente a costa atlântica da África.
Em 1434, o navegador Gil Eanes atingiu o Cabo Bojador (à frente das Ilhas Canárias). Logo após, em 1445, os portugueses atingiram a região do Cabo Branco, onde fundaram a feitoria de Arguim. Paralelamente à conquista desses pontos no litoral africano, os portugueses foram conquistando e anexando as Ilhas Atlânticas: em 1419, o arquipélago da Madeira; em 1431, os Açores; e em 1445, as Ilhas de Cabo Verde. Nestas ilhas, foram introduzidas a lavoura canavieira e a pecuária, fundadas no trabalho do escravo africano, e sendo aplicado pela primeira vez o regimes de capitanias hereditárias.
Procurando um novo caminho para as Índias, em 1452, os navegadores lusitanos penetraram o Golfo da Guiné e atingiram o Cabo das Palmas; alguns anos mais tarde (1471), ultrapassaram a linha do Equador, penetrando no Hemisfério Sul. Em 1482, na costa sul da África, Diogo Cão atingiu a foz do Rio Congo e Angola, onde foram fundadas as feitorias de São Jorge da Mina; Luanda a Cabinda, locais em que se praticavam o comércio de especiarias e o tráfico negreiro.
Em 1488, Bartolomeu Dias atingiu o Cabo da Boa Esperança (Tormentas), completando o contorno do litoral atlântico da África (Périplo Africano). Dez anos mais tarde (1498) Vasco da Gama navegou pelo Índico e atingiu Calicute, na Índia. A partir daí, Portugal encetou sucessivas tentativas de formação do seu Império no Oriente. A primeira grande investida deu-se em 1500, com a organização de uma grande esquadra militar comandada por Pedro Álvares Cabral; desta expedição, temos a “descoberta” do Brasil e, depois, a tentativa cabralina de se fixar no Oriente.
Entre 1505 e 1515, Francisco de Almeida e Afonso de Albuquerque – este último, considerado o fundador do Império Português nas Índias – obtiveram sucessivas vitórias no Oriente, estendendo as conquistas lusas desde o Golfo Pérsico (Aden) à Índia (Calicute, Goa, Damão e Diu), ilha do Ceilão e alcançando a Indonésia, onde conquistaram a ilha de Java. Onde não foram obtidas conquistas militares, foram firmados acordos comerciais como é o caso da China (Macau) e Japão, entre 1517 e 1520. Mesmo baseados em um sistema de lucrativas feitorias, os gastos com as despesas militares e com a burocracia afligiam o Império Oriental Português. A partir de 1530, esses gastos, aliados à queda de preços das especiarias na Europa e à concorrência inglesa e holandesa, inviabilizaram sua sobrevivência. No século XVII, o vasto Império Luso já estava desmantelado.
2. As navegações espanholas
Até 1942, os espanhóis lutavam contra os invasores mulçumanos. Nesse ano a vitória espanhola retomando Granada, o último reduto da península em poder dos invasores, assegurou a consolidação da monarquia nacional da Espanha, tornando possível o Ciclo Ocidental de Navegações.
A Espanha teve sua participação retardada no processo expansionista. A longa luta de reconquista contra os invasores mulçumanos que dominavam a península desde o século VIII e as lutas internas entre os reinos hispânicos cristãos impediam a unidade política e, consequentemente, a formação da monarquia nacional espanhola. A unificação política da Espanha ocorreu somente em 1469, com o casamento dos reis católicos, Fernando, de Aragão, e Isabel, de Castela. Com isso, os espanhóis se fortaleceram e investiram contra os invasores que ocupavam ainda o sul da península e, após sucessivas vitórias, tomaram Granada (1492), último baluarte da dominação moura no continente europeu.
A partir daí, desenvolveu-se uma orientação uniformizada possibilitando o fortalecimento da burguesia mercantil, anteriormente beneficiada por medidas pontuais dos reinos de Castela e Aragão: no caso deste último, destaque-se a expansão mediterrânea no século XIV, levando os mercadores aragoneses até a Sicília onde comercializavam panos, gêneros alimentícios e especiarias. Em 1492, patrocinado pelos Reis Católicos, Cristóvão Colombo, um navegador genovês, deu início ao Ciclo Ocidental de Navegações, que consistia na busca de um caminho para o Oriente, navegando para o Ocidente.
Em 12 de outubro de 1492, Colombo atingia a Ilha de Guanananí (São Salvador), realizando o primeiro feito significativo das navegações espanholas, ou seja, o descobrimento da América. Acreditando ter atingido as Índias, Colombo realizaria ainda três viagens à América, tentando encontrar as “ricas regiões do comércio oriental”. No final de 1499, Vicente Yañez Pinzon, um dos comandantes de Colombo na viagem de descoberta da América em busca de um caminho que o levasse ao Oriente, atingiu a foz do rio Amazonas (Mar Dulce), colocando-se, portanto, como predecessor de Cabral no descobrimento do Brasil. Em 1513, ainda em busca de uma passagem para o Levante, Vasco Nuñes Balboa cruzou o istmo do Panamá o Oceano Pacífico. Outra empresa importante, relacionada à expansão marítima espanhola, foi a realização da primeira viagem de circunavegação iniciada em 1519 por Fernão de Magalhães, um navegador português a serviço da Espanha, e completada por Juan Sebastião Elcano, em 1522. Após 1.124 dias de navegação pelos mares desconhecidos, os espanhóis atingiram as ilhas das especiarias orientais pelo Ocidente, além de comprovar a esfericidade da Terra.
As conquistas espanholas
Mesmo com o controle de importantes pontos comerciais no Oriente (Filipinas e Bornéo) obtidos no decorrer do século XVI, os espanhóis voltaram-se basicamente para o Ocidente, onde deram início à colonização da América• Nessa empresa, os seus esforços se concentraram principalmente no México e no Peru.
O México foi a primeira área a ser conquistada entre 1518 e 1525, sob a liderança de Fernan Cortéz. Essa empreitada implicou a destruição do Império Asteca e sua capital Tenochititián, onde ficaram célebres a ferocidade e a crueldade dos conquistadores europeus. A conquista do Peru está. relacionada ao avanço dos espanhóis sobre o Império Inca, cuja capital era Cuzco. Entre 1531 e 1538, Francisco Pizarro e Diego de Almagro destruíram um dos mais importantes impérios pré-colombianos, o que garantiu a expansão do domínio espanhol sobre o Chile, Equador e Bolivia, numa ação marcada também pela brutalidade do conquistador. Nessas duas áreas, ricas em ouro e prata, teve início a exploração das minas, com o uso intensivo do trabalho compulsório do nativo.
As colônias espanholas na América foram divididas inicialmente em dois vice-reinados: o de Nova Espanha (México) e do Peru. Criados respectivamente em 1535 e 1543, os vice-remos eram subordinados diretamente ao Real e Supremo Conselho das Indias, órgão governamental ligado diretamente ao rei e encarregado de tudo quanto se relacionasse com a América. No século XVffl foram criados mais dois vice-remos: o de Nova Granada (Colômbia) e do Prata (Argentina).
Os espanhóis esperavam atingir o Oriente navegando para o Ocidente. Em busca de uma passagem que o levasse às “Indias”, além da viagem de 1492, que resultou no descobrimento da América, Cristóvão Colombo realizou mais três viagens ao Novo Mundo.
Colombo nunca encontrou o caminho para as “Índias”. Acabou morrendo velho e abandonado no convento de Valladolid.
A conquista dos antigos impérios pré-colombiano, pelos espanhóis, implicou a destruição das populações indígenas.
3. A partilha das terras descobertas
A rivalidade entre Portugal e Espanha pela disputa das terras descobertas de origem a uma série de tratados de partilha. Em 1480, antes da fase mais intensa das navegações espanholas foi firmado o Tratado de Toledo, pelo qual Portugal cedia à Espanha as ilhas Canárias (Costa da África), recebendo em troca o monopólio do comercio e navegação do litoral africano ao sul da linha do Equador.
A descoberta da
América serviu para aumentar a rivalidade entre os dois paises e exigiu um novo tratado. Desta feita, o Papa Alexandre VI (cardeal aragonês) atuou como árbitro através da Bula Inter Coetera 1493. Uma linha imaginária foi traçada a 100 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde: as terras situadas a oeste da linha demarcatória ficariam para a Espanha, cabendo a Portugal as terras a leste, ou seja, o mar alto, o que gerou protestos de D. João II, o rei de Portugal.
Em função da reação portuguesa foi estabelecida uma nova demarcação que ficou conhecida como
Tratado de Tordesilhas (1494). A linha imaginária passaria agora a 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde: a porção ocidental ficaria pertencendo à Espanha, cabendo a Portugal a porção oriental. Dessa forma, parte das terras do Brasil passavam a pertencer a Portugal. Contudo, a linha de Tordesilhas, que, provavelmente, passaria por Belém, ao norte, e por Laguna, no litoral catarinense, nunca foi concretamente demarcada.
A presença espanhola no Oriente, depois da viagem de Fernão de Magalhães, exigiu também a demarcação da parte oriental do planeta, através do Tratado ou Capitulação de Saragoça (1529). Por este acordo, uma linha imaginária dividiria o mundo oriental entre Espanha e Portugal, a partir das Ilhas Molucas.
A divisão do mundo entre portugueses e espanhóis desencadeou a reação da França, Inglaterra e Holanda, países marginalizados pelos tratados de partilha. Daí, a sucessão de ataques corsários e as invasões das possessões ibéricas na América, África e Ásia.
4. As conseqüências da expansão marítima.
As Grandes Navegações e Descobrimentos modificaram de forma significativa o mundo até então conhecido. Dentre as principais conseqüências da expansão européia devem ser destacadas:
♦ O deslocamento do eixo econômico europeu do Mediterrâneo para o Atlântico-Índico, com a ascensão dos países ibéricos e a conseqüente decadência das cidades mercantis italianas.
♦ A consolidação do Estado Absolutista, típico da Época Moderna, que depois de patrocinar o movimento expansionista, passou agora a usufruir dos seus lucros.,
♦ Adoção da política econômica mercantilista, baseada no protecionismo do Estado e no regime de monopólios.
♦ A formação do Sistema Colonial Tradicional vinculado à política econômica mercantilista e responsável pela colonização da América.
♦ O renascimento da escravidão nas áreas colônias nos moldes do capitalismo moderno, com a utilização intensiva da força de trabalho indígena e africana.
♦ O fortalecimento da burguesia mercantil nos países atlânticos.
♦ Início do processo de europeização do mundo, especialmente, com a expansão do cristianismo.
♦ A destruição das avançadas civilizações pré-colombianas existentes na América.
♦ A expansão do comércio europeu (Revolução Comercial), dentro de uma nova noção de mercado, agora entendido em escala mundial.
♦ Aceleração da acumulação primitiva de capital, realizada através da circulação de mercadorias.
♦ Revolução dos Preços, provocada pelo crescente afluxo de metais preciosos provenientes da América.
5. O atraso da Inglaterra, França e Holanda nas navegações
Diversos fatores contribuíram para o retardamento da participação Inglesa francesa e holandesa na expansão mercantil, dentre eles a Instabilidade política e econômica, a inexistência de uma monarquia centralizada, aliada aos interesses das burguesias nacionais e às resistências feudais.
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Expansão Marítima
O mais notável resultado da economia mercantil foi a expansão marítima, que levou mercadores a percorrer todo planeta. Preocupada em desenvolver o comércio, buscando novas áreas para explorar e novas mercadorias para negociar, a burguesia européia, devidamente amparada pelo Estado, na figura de seu principal aliado, que era o rei, cruzou os oceanos em uma das maiores aventuras humanas.
A expansão marítima foi um grande empreendimento econômico, político, social e militar e que envolveu grande volume de dinheiro. Sua realização somente foi possível graças à criação do Estado nacional e à aliança entre o rei e a burguesia. A centralização política promovida pelo Estado nacional permitiu que o rei contratasse toda a máquina estatal na criação de condições para o desenvolvimento tecnológico e para a separação de técnicos e navegadores aptos a concretizar a tarefa. O custo do projeto foi financiado pela burguesia, ou através dos impostos que os comerciantes pagavam ao Estado, derivados da atividade mercantil.
Mas não foram apenas os reis e os burgueses que tornaram possível a expansão pelos mares: uma grande parcela da sociedade foi convocada a contribuir com a empreitada. As viagens eram muito arriscadas, os naufrágios eram comuns, de tal forma que não havia certeza do retorno dos navegantes. A população pobre, da qual saíam os marinheiros que trabalhavam nas funções menos qualificadas, além de contribuir com os impostos derivados de seu trabalho, viveu o drama da perda das pessoas queridas sem participar dos benefícios econômicos e sociais oriundos das conquistas.
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O comércio com o oriente
As cruzadas, que recolocaram o Ocidente em contato com o Oriente, criaram o gosto pelo consumo de exóticos produtos orientais. Os artigos mais consumidos eram jóias, perfumes, veludos pintados, brocados, tecidos de seda e coral lavrado, além das especiarias, como a canela, o cravo e a procuradíssima pimenta, que chegou a ser usada como moeda. A expansão do mercado europeu para esse tipo de mercadoria pôde ser rapidamente aproveitada pelos mercadores das cidades italianas, principalmente Gênova e Veneza.
Os mercadores de outros países queriam quebrar o monopólio de Gênova e Veneza e participar desse comércio tão lucrativo. Esse foi o principal fator que impulsionou as viagens marítimas.
O Desenvolvimento Técnico
Uma das mais importantes formas de apoio oferecida pelo Estado à expansão marítima foi o incentivo ao desenvolvimento das técnicas navais. Uma técnica que ganhou um grande impulso no séc. XV foi a cartografia, que é a arte de desenhar mapas. O cartógrafo, um misto de técnico e artista, traçava os mapas a partir dos relatos que os navegantes faziam a respeito do que tinham visto. Quanto mais viagens fossem feitas, mais aperfeiçoados ficavam os mapas. Também eram incentivados os estudos astronômicos para tornar mais fácil a orientação dos navegadores. Aperfeiçoou-se a construção de embarcações e instrumentos já conhecidos, como a bússola e o astrolábio, que foram adaptados para as grandes viagens pelo mar.
A mudança do Eixo Econômico
Em 1498, após quase um século de preparação, uma frota portuguesa, sob o comando de Vasco da Gama, chegou à Índia. As viagens ao Oriente proporcionavam lucros que chegavam a 6 000%, o que fez o comércio se intensificar sensivelmente.
Esses acontecimentos provocaram uma mudança no eixo do comércio europeu. Antes de Bartolomeu Dias ultrapassar o Cabo Boa Esperança, em 1487, a posição geográfica de Veneza e das cidades do sul da Alemanha proporcionava a essas cidades grandes vantagens no domínio das rotas de comércio na Europa. A partir da descoberta do novo caminho para a Índia, foram os países que têm costa voltada para o Atlântico que ficaram em vantagem.
O Atlântico tornou-se a mais importante área de comércio do mundo. Portugal, Espanha, Holanda, Inglaterra e França tornaram-se nações privilegiadas porque têm acesso àquele oceano, que se transformou na rota mais lucrativa do começo do séc.XVI. O comércio, que antes apenas crescia, sofreu um grande salto. Tinha início o processo de formação de uma nova estrutura econômica, baseada no lucro, que é o capitalismo. Com o desenvolvimento do comércio, o principal fator de riqueza passou a ser a moeda.
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As visões do Novo Mundo
A Europa majestosa e a América selvagem: um exemplo da visão de mundo do colonizador
Ao falarmos sobre a expansão marítimo-comercial, costumamos salientar um amplo número de razões políticas e econômicas que possibilitaram a ocorrência de tal fato histórico. Sem dúvida, tais fatores são de fundamental compreensão para esse novo momento em que os homens saem de sua terra natal para descobrirem outras localidades e povos ao redor do mundo. Contudo, essa ambição material não encerra as possibilidades de explicação vinculadas às grandes navegações.
Partindo para um outro referencial interpretativo, devemos nos ater ao fato de que várias histórias sobre terras longínquas cercadas de maravilhas e criaturas terríveis circulavam entre os europeus mesmo antes da real descoberta de outros continentes. Entre outros documentos podemos salientar o “Livro das Maravilhas”, obra escrita pelo navegador italiano Marco Pólo, em que relata a exuberância e riqueza de distantes civilizações do Oriente.
Tendo forte traço medieval, esses relatos tinham base no pensamento religioso cristão ao alternarem relatos que faziam lembrar a busca do paraíso perdido ou a temível descoberta do inferno. Além disso, várias concepções científicas anteriores a esse período defendiam a compreensão da terra como um grande plano limitado por um grande abismo, onde se encontravam feras terríveis. Dessa forma, o desejo pelo novo e o temor do desconhecido traziam uma contradição à aventura pelo mar.
Essa visão maniqueísta de origem medieval não foi simplesmente abandonada a partir do momento em que os navegantes europeus criaram técnicas de navegação seguras e desmentiram vários dos mitos sobre as terras distantes. Ao chegarem à América, por exemplo, alguns viajantes costumavam falar sobre os costumes “demoníacos” das populações nativas e da “riqueza infindável” encontrada naquele novo ambiente que os cercava.
Utilizando dos próprios registros cartográficos do século XVI temos uma série de imagens e gravuras que demonstravam essa concepção de maneira ainda mais clara. Em alguns mapas, cada continente era descrito por meio da representação de quatro diferentes mulheres, sendo a Europa o símbolo de altivez e soberania; a África, uma negra cercada por animais selvagens e com poucos ornamentos; a Ásia, uma princesa cercada de especiarias; e a América, uma jovem nua selvagem.
A partir disso, podemos compreender que as grandes navegações de fato assinalam um novo momento da História onde os homens europeus ampliavam sua visão de mundo. Contudo, esse momento ainda se mostrava impregnado de várias permanências em que os valores religiosos cristãos e a mitologia medieval se mostravam claramente vivos na mente daqueles homens que partiam para o mar.
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Veja o Vídeo:
http://www.colegioweb.com.br/historia/as-navegacoes-espanholas-.html
A ambição expansionista de Portugal e Espanha no século XV trouxe a ameaça de uma guerra,
que foi evitada pela assinatura do Tratado de Tordesilhas, primeiro acordo internacional definido por vias diplomáticas. Endossado pela Igreja Católica, o tratado foi rejeitado por outros países. O Tratado de Tordesilhas estabeleceu que seriam de propriedade de Portugal as terras descobertas e a descobrir situadas a leste de um meridiano, traçado de pólo a pólo, a 370 léguas das ilhas de Cabo Verde, enquanto as terras situadas a oeste desse meridiano pertenceriam à Espanha. O mesmo se aplicava às terras conquistadas a povos não cristãos e àquelas ainda por conquistar. O acordo foi assinado em 7 de junho de 1494 na cidade espanhola de Arévalo, província de Tordesilhas, entre o rei de Portugal, D. João II, e os Reis Católicos, Isabel e Fernando de Castela e Aragão. Representou o fim oficial de uma longa série de disputas, negociações e bulas papais a respeito da posse das novas terras. O meridiano de Tordesilhas, no entanto, nunca foi de fato demarcado e motivou várias disputas de fronteira.
Antecedentes ao Tratato de Tordesilhas
Durante o século XV, impulsionados pela crescente necessidade de expansão comercial e pelo desenvolvimento tecnológico, navegadores portugueses e espanhóis lançaram-se à aventura de descobrir novas terras e caminhos marítimos.
Portugal recebeu de Roma várias concessões importantes relativas aos descobrimentos. Assim, em 1454, o papa Nicolau V, a instâncias da coroa portuguesa, concedeu ao rei e a seus sucessores a posse do litoral africano e ilhas dos mares adjacentes. O Tratado de Toledo, assinado em 1480 pelos reis de Castela e por Afonso V, rei de Portugal, e seu filho, D. João, determinava que pertenciam a Castela as ilhas Canárias e, a Portugal, a Guiné e as ilhas achadas ou por achar ao sul das Canárias. Baseado nesse acordo e nas bulas papais, D. João II reivindicou a posse das terras descobertas por Cristóvão Colombo em 1492.
Os Reis Católicos, inconformados com os privilégios de Portugal, recorreram ao papa para assegurar seus direitos sobre as terras recém-descobertas por navios espanhóis. Pela bula de 4 de maio de 1493, um mês após a chegada de Colombo a Barcelona, o papa Alexandre VI -- espanhol de Valência e inclinado a favorecer os soberanos de Castela -- outorgou à Espanha a posse das novas terras. A bula determinava que seriam de Castela as ilhas descobertas e a descobrir situadas a oeste de um meridiano "situado a cem léguas das ilhas de Açores e de Cabo Verde". Dessa forma, anulavam-se as concessões anteriores a Portugal.
Perdido o monopólio marítimo, D. João II tentou assegurar uma repartição territorial mais conveniente a seus interesses. Para estabelecer negociações diretas, enviou embaixadores aos reis de Castela. Iniciados na cidade de Tordesilhas, os entendimentos foram conduzidos pelo espanhol Ferrer de Blanes e pelo português Duarte Pacheco Pereira. Finalmente foi firmado o acordo, pelo qual os Reis Católicos renunciavam ao disposto pela bula de Alexandre VI e aceitavam uma nova proposta: o deslocamento para oeste da linha meridiana, que passaria a "370 léguas de Cabo Verde, entre os 48o e 49o a oeste de Greenwich". Ratificado em 1506 pelo papa Júlio II, por petição do rei de Portugal D. Manuel I, o Tratado de Tordesilhas vigorou até 1750, quando foi revogado pelo Tratado de Madri.
Os aventureiros do mar Tenebroso
Há muitos séculos o oceano Atlântico atraía a curiosidade dos navegantes europeus mais ambiciosos.Mas pouquíssimas expedições que se aventuraram mar adentro voltaram. Essas tentativas malogradas criaram na Imaginação popular as mais fervilhantes fantasias acerca do oceano desconhecido: monstros marinhos, águas ferventes e pedras-ímã, que puxavam as embarcações para o fundo, na altura do Equador.
Por volta do ano 1400 não se conhecia o real formato da Terra.
Era senso comum considerá-la plana como uma mesa, terminando em abismos sem fim. Mas havia aqueles que a imaginavam redonda e finita.
O desconhecimento completo dosoceanos nos dá uma medida dos riscos enfrentados pelos navegantes do século XV, que ousaram desbravá-los em precários barcos, com aproximadamente, ente 25 metros decomprimento.
As técnicas de navegação empregadas tradicionalmente no mar Mediterrâneo, no Báltico e na costa européia eram insatisfatórias para as novas circunstâncias.
Foi com o objetivo de aprimorá-las que o infante dom Henrique, filho do rei dom João I de Avis, reuniu os mais experimentados cartógrafos, astrônomos, construtores navais e pilotos da Europa.
Essa reunião ficou conhecida como Escola de Sagres.
Relatos de viagens dos Navegadores Descobridores
O primeiro Contato com os Brancos
Antes da chegada dos europeus a América existia mais ou menos 100 bilhoes de índios.
E todos eram divididos em tribos diferentes.Qando os brancos chegaram lá os índios perderam um pouco da suas culturas.O primeiro contato com os índios e portugueses foi de muita estranheza , porque eles tinham culturas e jeitos diferentes.
Documento 1:
“Dei muitas outras coisas de pouco valor que lhes causaram grande prazer” (11/10/1492). “Tudo o que têm, dão em troca de qualquer bagatela que se lhes ofereça, tanto que aceitam na troca até mesmo pedaços de tigela e taças de vidro quebradas” (13/10/1492). “Alguns tinham pedaços de ouro no nariz, que de bom grado trocavam por (...) [coisas] que valem tão pouco que não valem nada” (22/11/1492).(Cristóvão Colombo, “Diário”).
Documento 2:
“Até pedaços de barris quebrados aceitavam, dando tudo o que tinham, como bestas idiotas”.
(Cristóvão Colombo, “Carta a Santangel”, fevereiro/março de 1493).
Documento 3:
“Alguns índios que o Almirante [Colombo] tinha trazido de Isabela entraram nas cabanas (que pertenciam aos índios locais) e serviram-se de tudo o que era de seu agrado; os proprietários não deram o menor sinal de aborrecimento, como se tudo o que possuíssem fosse propriedade comum. Os indígenas, achando que tínhamos o mesmo costume, no início pegaram dos cristãos tudo o que era de seu agrado; mas notaram seu erro rapidamente.”
(Fernando Colombo, “Histoire” ou “Vida do Almirante Dom Cristóvão Colombo”, publicado em 1571)
Documento 4:
“Como na viagem que fiz a Cibao [atual República Dominicana], ocorreu que algum índio roubou, se fosse descoberto que alguns deles roubam, castigai-os cortando-lhes o nariz e as orelhas, pois são partes do corpo que não se pode esconder”.
(Cristóvão Colombo, “Instruções a Mosen Pedro Margarite”, 09/04/1494).
Documento 5:
“Cortez ordena que cada um dos [sessenta] caciques faça vir seu herdeiro. A ordem é cumprida. Todos os caciques são então queimados numa imensa fogueira e seus herdeiros assistem à execução. Cortez chama-os em seguida e lhes pergunta se sabem como foi dada a sentença contra seus pais assassinos, depois, tomando um ar severo, acrescenta que espera que o exemplo baste e que eles não sejam mais suspeitos de desobediência.”
(Pierre Martyr Anghiera, “De Orbe Novo”, publicado em 1511).
Documento 6:
“Assim que os espanhóis souberam das crenças ingênuas dos insulares em relação a suas almas que, após a expiação das faltas, devem passar das montanhas geladas do norte para as regiões meridionais, tudo fizeram para persuadi-los a abandonarem por iniciativa própria o solo natal e se deixarem levar às ilhas meridionais de Cuba e Hispaniola [Haiti]. Conseguiram convencê-los de que eles mesmos estavam chegando do país onde encontrariam seus pais e filhos mortos, todos os parentes e amigos, e desfrutariam de todas as delícias nos braços daqueles que tinham amado. Como os sacerdotes já tinham incutido neles essas falsas crenças, e os espanhóis confirmavam-nas, deixaram a pátria nessa vã esperança. Assim que compreenderam que tinham abusado deles, já que não encontravam nem os parentes nem pessoa alguma que desejavam e eram, ao contrário, forçados a suportar fadigas e a executar trabalhos duros aos quais não estavam habituados, ficaram desesperados. Ou se suicidavam, ou então resolviam morrer de fome e faleciam de cansaço, recusando qualquer argumento, e até mesmo a violência, para se alimentarem. (...) Assim pereceram os desafortunados lucayos.”
(Pierre M. Anghiera, “De Orbe Novo”).
Documento 7:
“Esta é nossa principal intenção: prevenir o clero da confusão que pode existir entre as nossas festas e as deles. Os índios, simulando a celebração das festas de nosso Deus e dos santos, inserem e celebram as de seus ídolos quando caem no mesmo dia. E introduzem seus antigos ritos no nosso cerimonial. (...) Durante esses dias de festa, ouvia cantos louvando a Deus e aos santos que eram misturados com suas metáforas e coisas antigas que só o demônio compreende, pois foi ele quem lhas ensinou.”
(Frei Diego Durán, “Historia de las Indias de Nueva España e Islas de la Tierra Firme”, escrito entre 1576-1581).
Os textos apresentam um relato do confronto entre a cultura indígena e européia, Demonstram uma incompreensão aos hábitos e costumes de ambas as culturas.
Cristóvão Colombo a comparar os indígenas a “bestas idiotas”, isto demonstra a sua incompreensão ao modo de viver dos indígenas americanos,
o fato dos indígenas trocarem bagatelas, coisas de nenhum valor, coisas de nenhum valor para quem?
A incompreensão de Colombo, sua ignorância em relação aos valores e cultura dos indígenas, do outro, do diferente, o levou a chamar-lhes de “bestas idiotas”.
Como bem diz Todorov: “Colombo não compreende que os valores são convenções (...) e que o ouro não é mais precioso do que o vidro ‘em si’, mas somente no sistema europeu de troca. (...) temos a impressão de que é ele [Colombo] o idiota: um sistema de troca diferente significa, para ele, a ausência de sistema, e daí conclui pelo caráter bestial dos índios.”
A frase do filho mais novo de Colombo, Fernando, (doc. 3) ele nos dá uma pista para compreendermos que seu pai estava errado ao chamar os indígenas de “bestas idiotas”. A frase: “Os indígenas, achando que tínhamos o mesmo costume, no início pegaram dos cristãos tudo o que era de seu agrado, mas notaram seu erro rapidamente.” O fato de que Fernando percebe que os indígenas têm costumes diferentes, que a noção que eles possuem de propriedade privada é diversa da dos europeus. Mas, sintomático, Fernando identifica o diferente com o erro. Sua visão etnocêntrica o impede de conferir validade aos valores de outros povos, de outras culturas.
Os documentos 5 e 6 nos informam de diferentes meios de dominação utilizados pelos espanhóis no Novo Mundo.
Não foi apenas através da violência física explícita – o suposto “roubo” e a rebelião promovida pelos caciques contra o domínio espanhol são punidos exemplarmente, isto é, visíveis aos olhos de todos (docs. 4 e 5) – que os europeus impuseram sua dominação. À medida em que foram tomando conhecimento dos valores, das tradições, de elementos da cultura indígena se utilizaram astutamente desses elementos para que os indígenas atendessem a seus interesses – no caso do doc. 6, servirem como mão-de-obra.
Nos documentos 1 e 2 o que salta aos olhos é a ignorância do europeu em relação à cultura indígena, os documentos 3, 6 e 7 revelam conhecimento do europeu de elementos dessa cultura. Mas a intolerância em relação ao diferente é a mesma: o “bestas idiotas” (doc. 2) equipara-se ao “erro” (doc. 3), às “crenças ingênuas”, às “falsas crenças” (doc. 6), às coisas do “demônio” (doc. 7).
Através da leitura dos documentos 5, 6 e 7 podemos identificar os diferentes meios que os indígenas utilizaram para resistir à dominação. Não foi apenas através da rebelião armada que os indígenas resistiram à dominação (doc. 5). Alguns preferiram deixar de viver – na esperança, segundo suas crenças, de uma vida prazerosa após a morte – a serem escravos dos espanhóis (doc. 6). Outros, mesmo servindo aos europeus, se utilizaram da cultura que lhes era imposta para introduzir e preservar elementos de sua própria cultura, mantendo assim traços de sua identidade e resistindo à total submissão à religião do europeu. O mesmo aconteceu com as formas de resistência dos africanos à escravidão: quilombos, rebeliões, banzo e introdução de elementos da cultura africana nas manifestações culturais do branco europeu.culturais do branco europeu.
Podemos tirar as conclusões finais, nunca uma cultura consegue apagar uma outra que pretende dominar. Sempre quando culturas distintas entram em contato entre elas ocorre uma interação ou ação recíproca. Esse processo de mudança cultural provocado pelo contato entre dois ou mais grupos culturalmente distintos, e no qual um desses grupos assimila aspectos da cultura do outro é tradicionalmente conhecido como aculturação.
Antes de tudo começar - Habitantes do Brasil
Em 1500 diz-se que Pedro Álvares Cabral estava indo a caminho das Índias, se perdeu e acabou parando no Brasil onde disseram que havia descobrindo-o. Mas será que realmente foi um descobrimento? Eles chegaram a um local onde já havia uma população maior que a deles, população que já tinha seus costumes e suas culturas. Será que não podemos considerar uma invasão?
Esta população que habitava o Brasil foi chamada de índio o que inclusive é incorreto, pois cada grupo indígena tem sua cultura, seu idioma, são como ingleses e franceses, e não um único grupo. Os grupos indígenas são divididos de acordo com o idioma:
- o tronco Tupi: que são sete e destaca-se o tupi-guarani;
- o tronco Arawak;
- o tronco Macrojê.
Apesar de toda a diferença cultural, dos grupos indígenas eles também se pareciam em alguns aspectos, pela pouca vestimenta e principalmente pela sociedade “comunista”. Não existia um chefe, não existiam divisões, era tudo de todos e para todos. Já o Antropofagismo como muitos pensam, não era característica comum a todas as tribos, estava diretamente ligado à cultura e não era característica comum entre os índios.
Veja os vídeos:
Fonte: Nova história crítica do Brasil: 500 anos de história malcontada / Mario Furley Schimidt. - São Paulo: Nova Geração, 1997.